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Escola das Famílias | Argumentação

02/12/2022

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Um amigo seu comenta todo animado sobre uma série televisiva que está assistindo e adorando. “Maratonei o final de semana”, ele diz. Com curiosidade, você começa a assistir e já no segundo episódio percebe que não faz o seu perfil, você acha uma chateação. A mesma situação pode acontecer com um livro emprestado e até com a sugestão de um canal de podcast.  

Isso acontece porque a mesma “realidade” é percebida por cada pessoa de acordo com diversos processos cognitivos, dentre os quais destacam-se:  

a) seleção de informações: de acordo com a nossa fome, sono, sede, humor, local, companhia ou até mesmo momento de vida, notamos certos aspectos de uma determinada situação e simplesmente ignoramos outros. Duas pessoas que vão a um mesmo festival ou que participam de uma mesma reunião de trabalho, raramente percebem a situação exatamente da mesma forma. 

b) omissão: como parte do processo de absorção daquilo que vivemos, temos que focar em determinados ângulos, aspectos, dados, informações e simplesmente descartar outros. Isso pode ser facilmente notado ao lermos o mesmo livro novamente tempos depois, ou ao assistirmos a uma mesma palestra que já vimos. Parece outra experiência pois nós é que mudamos e, em cada momento, nossa mente omite parte da experiência e se foca em outra. 

c) generalização: tendemos a acreditar que aquilo que vemos no mundo é tudo o que há para ver, é o real. Simplesmente ignoramos o fato de que selecionamos e omitimos partes de toda e qualquer experiência e acreditamos, por isso, que estamos certos e que os argumentos ou pontos de vista de outras pessoas em uma conversa ou em uma discussão familiar são sempre incompletos, errados ou desatualizados. Apesar disso ser humano e até natural, não quer dizer que não possamos melhorar nossas relações com um pouco mais de humildade e de humanidade. A humildade nos ajuda a perceber justamente que o nosso ponto de vista em uma argumentação é sim tão válido quanto o do outro, e que em algumas situações ambos estão certos, cada um com o seu filtro da realidade.

Quando você perceber claramente que seu filho estiver, por exemplo, distorcendo a realidade a favor dele ou menosprezando alguma informação importante ao lhe pedir algo que em sua visão é descabido, seja mais humilde e não pegue pesado com o outro, pois ele pode estar tão convicto daquilo que quer ou pede quanto você. É a humildade também que ajuda uma mãe a não desprezar os sentimentos de frustração de um filho com falas como “que besteira”, “mas isso é ridículo”. Ao contrário disso, acolha a voz do outro, respeite a dignidade alheia, mostre empatia e pergunte por exemplo, por que aquilo é tão importante, manifeste que entende a frustração e diga claramente que é seu papel cuidar, orientar, preservando assim o bom trânsito de comunicações entre vocês.  

É muito importante que seus filhos exercitem a arte da argumentação. Esse é um processo que começa dentro de casa e merece ser bem cuidado. Isso não significa acatar sempre os desejos ou pedidos deles. Você também tem seus argumentos, seus valores, você é o adulto da casa, e cabe a você a palavra final sobre algumas decisões, mesmo que alguns argumentos sejam válidos ou justificáveis na visão deles.  

Humanize um pouco mais a forma como se relaciona em seu lar, aceitando os altos e baixos e adoçando um pouco mais seu coração. Todos podem sair ganhando. Isso é o maior gesto de humanidade diante de sua família. 

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