Logo no início do dia, todos na casa estão apressados. O pai vai sair para o consultório e a mãe, antes de ir para o escritório, leva as crianças para a escola.
A confusão é geral. A mãe, nervosa, insiste para o filho vestir a meia. O pai, apressado, pergunta onde está o pote de geleia pois não está encontrando no lugar de sempre. A menina reclama que o irmão está demorando no banheiro. Nesse ambiente, enquanto coloca a meia, o menino está preocupado por ainda não ter feito a inscrição no torneio de futebol.
O prazo é até aquela manhã mesmo, até as 12h. Ele fica pronto e, enquanto a mãe está se maquiando, se aproxima dela e pede que envie o e-mail de inscrição para o professor de Educação Física.
Ela não responde. Na porta do elevador, ele repete o pedido, mas a mãe percebeu que se esqueceu da bolsa. Volta rápido, pega e entram no carro.
Tensa por causa do trânsito, ela também não responde pela terceira vez ao pedido. Até que, percebendo que irá entrar na escola sem a situação resolvida e o prazo irá se esgotar, o menino grita, em tom de desabafo:
“Pôôô!!! Ninguém me ouve nesta casa!!! Não aguento mais!!!”
Esse exemplo mostra como a falta de comunicação leva uma família a uma situação de tensão e desentendimentos. E como isso é frustrante para os filhos.
A verdadeira comunicação é como um campo de trocas afetivas, em que ideias, opiniões, sonhos e necessidades são colocadas para que cada um se desenvolva como indivíduo.
Comunicar dá o verdadeiro sentido das palavras compartilhar e compreender.
O ato de compartilhar gera confiança. E o de compreender requer o acolhimento e a empatia, para saber o momento e a maneira certos para comunicar algo, seja uma angústia, um desejo, uma necessidade.
A própria palavra comunicação tem em sua origem esse caráter familiar. Communicare, do latim, é tornar comum, e um dos aspectos básicos de uma família são os interesses comuns, um projeto de vida que, apesar de preservar individualidades, diz respeito a todos.
Uma comunicação eficiente pode ser aprendida em casa. A partir dessa experiência, um filho que se sentiu acolhido em seu direito de falar e ouvir, respeitando os argumentos e as necessidades do outro, abriu um amplo caminho para construir sua própria identidade e para a sua realização pessoal e profissional.
Por mais pressa que tenham na correria do dia a dia, para os familiares, é fundamental parar, respirar, se esquecer do mundo para ouvir atentamente alguma opinião, queixa ou simplesmente o relato dos filhos sobre o dia na escola.
A fluência da comunicação irá, inclusive, possibilitar uma melhor utilização do tempo, com a quantidade de brigas e desentendimentos sendo reduzida. É um ambiente de afeto e compreensão levando a um melhor desenvolvimento pessoal e profissional.
Os filhos devem ser estimulados pelos pais a exercitar as mais eficientes formas de comunicação no dia a dia. Em tempos de redes sociais e modernos aparelhos, há um universo amplo que facilita a interação entre as pessoas.
É preciso cuidado, porque, muitas vezes, compartilhar, mandar mensagens, escrever posts engraçados pode estar escondendo algo e impedindo uma comunicação mais plena.
É preciso se aprofundar em cada mensagem aparente e conseguir entender que um filho não deixou de fazer a lição por preguiça, mas por poder estar se sentindo inseguro.
Adultos participativos ajudam uma filha e um filho a se sentirem mais confiantes, apontando caminhos e favorecendo a iniciativa própria, a autonomia, a sensação da autoestima. Dar um abraço e também saber o momento de mostrar que eles têm que arrumar a própria cama.
Ouvir e fazê-los compreender que obedecer normas e horários faz parte da realidade. Desta maneira, diante das dificuldades e incertezas da vida, a comunicação fluirá mais aberta. Para isso, é importante não apenas se colocar no lugar do outro mantendo a própria visão de mundo. É preciso ousar e tentar entender qual é a outra visão de mundo.
Uma boa relação entre pais e filhos e uma educação coerente são baseadas na comunicação. E uma boa comunicação é baseada no entendimento.
CLIPPING CULTURAL
LIVROS
- Comunicação não violenta: Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais
Marshall B. Rosenberg, Editora Ágora, 2021
O livro conceitua a proposta de comunicação não violenta e explicita os passos para a prática dessa forma de interação, a qual promove relações mais harmoniosas, porém, não livre das diferenças individuais.
- O corpo fala: A linguagem silenciosa da comunicação não verbal
Pierre Weil, Editora Vozes, 2015
A comunicação envolve não apenas a fala, mas também o corpo, os gestos, as expressões faciais. Neste livro, é explorada a linguagem não verbal e como nos comunicamos por meio do corpo.
FILMES
- A família Bélier (2014)
Direção: Éric Lartigau.
País: França, Bélgica.
O filme retrata a dinâmica da família Bélier, que é composta pela adolescente Paula e seus pais e irmão que são surdos e mudos. Ao descobrir seu talento para o canto, o filme apresenta os desafios encontrados pela jovem. A comunicação é peça-chave ao longo do filme.
- Lado a Lado (1998)
Direção: Chris Columbus.
País: EUA.
A fotógrafa Isabel Kelly é a nova esposa de Luke e abre mão até da carreira profissional para agradar aos filhos do marido. Apesar de o menino aceitar melhor a nova esposa, a menina, que quer a reconciliação do pai com a mãe, não se conforma com a separação e cria empecilhos, alimentados pela falta de melhor comunicação.
- Sonata de Outono (1978)
Direção: Ingmar Bergman.
País: Alemanha Ocidental, Reino Unido.
O filme retrata a tensão e a competição entre a mãe, uma renomada pianista apegada à fama, e a sua filha Eva, que se sente desprestigiada pela mãe e tirou sua irmã, Helena, de uma instituição para pessoas com problemas mentais, a fim de cuidar dela em lugar de Charlotte.